A Escola Está a Silenciar a Infância

28-06-2025

Posso falar o que eu acho? @Anabela Reis
Portugal precisa urgentemente de uma escola com tempo, com espaço e que faça sentido. Queremos que as nossas crianças vivam uma infância livre, ativa e feliz.


As crianças portuguesas estão a viver um tempo silenciosamente cruel.

No 1º Ciclo, muitas entram no recinto escolar às 7h30 e saem pelas 19h. São quase doze horas fechadas num espaço que pouco ou nada favorece o seu bem-estar, desenvolvimento ou criatividade. Sete dessas horas são passadas em aulas, mesmo sabendo que a capacidade de concentração de uma criança se esgota, na maioria dos casos, antes da hora de almoço.

O que se faz com o tempo restante? Muito pouco. Ficam no mesmo edifício, nos mesmos espaços, com atividades que raramente variam ou encantam. Crescem rodeadas de ruído, pressão, cansaço. Sem pausas em silêncio, sem espaços verdes, sem vida natural. Sem tempo para serem crianças.

Vivem enclausuradas entre quatro paredes — da casa, do apartamento, da escola à sala de aula — sem alternativas verdadeiras. A escola transformou-se num local de contenção, não de educação. O que era para ser uma experiência rica e transformadora tornou-se um mecanismo de guarda infantil institucionalizada.

Onde está o tempo para brincarem? Para correrem, explorarem, criarem? Onde fica o conhecimento do lugar onde vivem, no seu dia-a-dia? Os museus, os monumentos, os parques, as oficinas, as hortas, as bibliotecas? Onde está o contacto com a cidade e a sua história, com a realidade, com a natureza, com o mundo fora dos manuais, das fichas de trabalho e dos quadros interativos?

Estamos a formar crianças exaustas, desmotivadas, irritadas, sem foco, sem autonomia, sem curiosidade, sem pensamento crítico, sem criatividade. Não estão a aprender — estão a sobreviver. E o mais grave é que muitos adultos fingem não ver. Porque é cómodo. Porque dá jeito. Porque é mais fácil manter as crianças fechadas e "guardadas" do que repensar verdadeiramente o que é preciso para as educar bem. As crianças são sementes frágeis que precisam de muitos cuidados para crescerem em harmonia.

Mas este modelo serve? Serve a quem? Certamente não serve às crianças. Nem ao futuro. Serve apenas para uma ideia de economia imediata, de votos fáceis, de uma sociedade conformada e previsível. O Ministério da Educação — e o governo — têm privilegiado a aparência de funcionamento em detrimento da construção de uma sociedade crítica, culta, consciente e criativa. Há gritos, nas escolas que não se ouvem, mas se veem. Basta pararmos e observarmos com a atenção que as nossas crianças merecem. São gritos que vêm quer dos alunos, quer dos professores, que olham nos olhos, todos os dias, os seus alunos. Apela-se à reorganização do modelo escolar com base no respeito pela liberdade da criança e no desenvolvimento real da criança.

O tempo na escola dos alunos mais novos tornou-se injusto, no prolongado por motivos de recuperação de aprendizagens, pelo que a pandemia COVID 19, perturbou. Já lá vão 5 anos. Prolongou-se pelo mês de calor, nas escolas de 1º Ciclo, demasiado quentes e sem sistemas de ventilação.

Vamos respeitar a natureza das nossas crianças, compreender as suas capacidades. Entender que a concentração da criança está mais disposta na parte da manhã, precisamos respeitar os limites da atenção e da energia das crianças. Vamos respeitar o espírito de aventura e curiosidade das nossas crianças, dando-lhes tardes dedicadas a atividades exploratórias e pedagógicas fora do espaço escolar, aproveitando o mundo que existe para além dos muros da escola — museus, parques, monumentos, hortas, bibliotecas, oficinas, ruas e praças da cidade.

Este é um apelo à mudança, feito por muitos, há tanto…. Um grito!

As crianças estão a pedir socorro. E nós, adultos, temos a obrigação de as ouvirmos.